Entre uropatágios e genes: diversidade morfológica e molecular da quiropterofauna do centro de endemismo Pernambuco (CEP), Alagoas, Brasil

A quiropterofauna desempenha papéis ecológicos fundamentais, apresentando alta diversidade e ampla distribuição. O Centro de Endemismo Pernambuco (CEP) é uma região ainda pouco estudada, e uma das mais degradadas da Mata Atlântica do Brasil, que abriga uma fauna única e elevado potencial para novos registros de quirópteros, justificando sua escolha. Este estudo teve como objetivos caracterizar a diversidade taxonômica e genética da quiropterofauna do CEP, visando contribuir para ampliar o conhecimento desta importante lacuna de amostragem, bem como a representatividade de sequências de DNA em bancos de dados públicos. Espécimes provenientes de sete localidades no estado de Alagoas (273 indivíduos) foram analisados quanto à morfologia externa e crânio-dentária. Dentre estes, 121 foram analisados molecularmente, sendo obtidas 115 sequências consenso para o marcador COI e 83 para o marcador CYTB. A análise destas sequências recuperou a identidade taxonômica de 34 espécies, apresentando alguns conflitos com a identidade morfológica previamente obtida, além de dados inéditos para o CEP. Os resultados indicaram elevada diversidade taxonômica e divergência genética das amostras do CEP em comparação com amostras provenientes de biomas adjacentes, sugerindo a presença de complexos de espécies. Para espécies anteriormente conhecidas por poucos ou nenhum registro para o CEP, destacamos dois exemplos: 1) elevada divergência (3,9% à 8,0%) entre amostras de Trinycteris nicefori do CEP e amostras amazônicas, sugerindo representarem duas espécies distintas; e 2) valores de divergência de aproximadamente 11% entre sequências de Glyphonycteris sylvestris do CEP e aquelas disponíveis em bases de dados para essa espécie, também indicando a ocorrência de uma possível nova espécie para o CEP. Este estudo contribui para reforçar a importância do CEP como área de hotspot de biodiversidade e o caráter prioritário da pesquisa científica para resolver conflitos taxonômicos, ampliar a compreensão da diversidade e de cenários evolutivos, além de promover estratégias robustas de conservação.